Cheiloclinium cognatum (Miers) A.C.Sm.

Sinônimo: Salacia cognata (Miers) Peyr.

Bacupari, bacupari-de-árvore, bacupari-de-macaco, saputá

Árvore inerme, ciófila a semi-esciófila, perenifólia a subcaducifólia, monoica, de até 8 m de altura e 15 cm de DAP. Tronco quase sempre retilíneo. Casca moderadamente espessa; ritidoma  cinzento a pardacento, intensamente dividido e descamante; casca interna avermelhada, passando a amarelada na região do floema. Madeira moderadamente pesada; cerne amarelado a marrom-claro. Copa muito esgalhada, às vezes com galhos verticilados. Galhos na maioria das vezes verticilados. Râmulos roliços, cinzentos; (sub)quadrangulares e verdes quando jovens. Folhas simples, opostas a subopostas, glabras; pecíolo roliço, de 6-12 mm de comprimento; lâmina cartácea a subcoriácea, elíptica a obovada, de 6-15 x 4-8 cm, com margem serreada a crenulada. Inflorescências paniculiformes, axilares, eventualmente terminais, glabras, muito ramificada, de 5-10 cm de comprimento. Flores vermelho-acastanhadas, curto-pediceladas, campanuliformes, andróginas, diclamídeas, pentâmeras, actinomorfas, de 3-4 mm de diâmetro; cálice e corola  variando de avermelhados a amarronzados e a amarelados; androceu com 3 estames; ovário súpero, trilocular, trilobado. Fruto globoso, elíptico ou oblongo, de 3-4 x  2,5-3  cm, com 1-3 sementes; epicarpo liso, coriáceo, alaranjado na maturação; pericarpo mucilaginoso, de cor amarelada a brancacenta e de sabor agradável. Sementes com tegumento bege, membranáceo e 1,5-2 cm de comprimento.

Possui registros de ocorrência no Panamá, em quase todo o norte da América do Sul, em todas as unidades federativas das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, em uma parte dos estados da região Nordeste deste país e no estado do Paraná. Ocorre em todas as partes do Cerrado, em florestas estacionais subcaducifólias, florestas ribeirinhas situadas em solos bem drenados e eventualmente em cerradões. É um dos elementos arbóreos mais abundantes em muitas localidades desse bioma.

Floresce ao longo de quase todo o ano, sendo o período de novembro a fevereiro o de maior incidência de indivíduos em floração. Os frutos levam em torno de 4 meses para atingirem a maturação. As flores são frequentadas por abelhas silvestres de pequeno porte.  As sementes são dispersas por animais arborícolas e terrestres.

A madeira é considerada apropriada para confecção de móveis e de peças para uso em partes internas de edificações; em fazendas é eventualmente utilizada em construção de cercas e como fonte de energia. As cascas do tronco e das raízes são utilizadas na fitoterapia popular, contra parasitas intestinais. A casca da raiz possui metabólitos com atividade anti-inflamatória e analgésica (Costa et al, 2007), contra radicais livres (Jeller et al., 2004) e contra o protozoário Trypanosoma cruzi (Lião et al., 2008). Os frutos são comestíveis e muito apreciados pela população do meio rural; são também um recurso alimentar importante para primatas, pássaros e vários membros da fauna terrestre. A espécie merece prioridade em projetos de recomposição de áreas desmatadas e pode ser indicada para formação de pomares de fruteiras não convencionais.

A propagação de C. cognatum é feita por meio de sementes. Estas, para apresentarem boas taxas de germinação, precisam ser novas e estarem completamente isentas da mucilagem que as envolvem. A semeadura pode ser realizada em covas, no local definitivo; sementeiras, para posterior repicagem das plântulas; ou em recipientes individuais. O substrato pode uma mistura de terra argilo-arenosa com esterco curtido, na proporção 2:1, e o ambiente deve ser parcialmente sombreado. O desenvolvimento das plântulas e dos indivíduos juvenis no campo tem sido classificado como moderado.

C. cognatum ocorre em toda a área de abrangência do Cerrado, ocorre em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e está presente em muitas unidades de conservação de proteção integral nesse bioma. Por outro lado, teve muitas populações dizimadas por desmatamentos realizados para a prática de atividades agropastoris, como parte de um processo que ainda não terminou.

 

Superfície do ritidoma e cor da casca interna. Abadia dos Dourados (MG), 07-11-2014

Folhas antes da maturidade. Araguari (MG), 06-02-2016

Inflorescência. Monte Carmelo (MG), 05-05-2014

Frutos maduros. Araguari (MG), 28-11-2015

 LITERATURA
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