Sinônimos: Apuleia molaris Spruce ex Benth., A. leiocarpa (Vog.) Macbride var. molaris Spr. ex Benth., A. praecox Martius, A. grazieliana Afr.Fern.
Garapa, grápia, amarelão, gema-de-ovo
Árvore inerme, caducifólia, heliófila, monoica, até 25 m de altura e 70 cm de DAP. Casca moderadamente espessa; ritidoma cinzento, irregularmente dividido e descamante, envolvendo periderme amarela provida de cicatrizes deprimidas, resultantes do desprendimento dos fragmentos de tecido morto; casca interna rosada, circundada por uma camada de tecido clorofilado. Madeira moderadamente pesada a pesada, com fibras reversas; cerne variando de amarelo a marrom-claro. Copa na maioria das vezes umbeliforme, com esgalhamento tipicamente dicotômico. Folhas alternas, imparipinadas, glabras a pubescentes, com 7-18 folíolos; pecíolo e raque totalizando 8-14 cm de comprimento; folíolos alternos, cartáceos, geralmente ovados, de 2,5-4,5 x 1,5-2,5 cm. Inflorescências cimosas, terminais, pilosas, de 2,5-5 cm de comprimento, com 1-3 flores andróginas centrais e numerosas masculinas ao redor. Flores diclamídeas, trímeras, zigomorfas, perfumadas, nectaríferas, de 5-6 mm de comprimento; cálice verde-amarelado; corola branca; androceu com 2 estames exsertos nas flores andróginas e 3 nas masculina. Fruto compresso, assimétrico, apiculado, sublenhoso, velutino a glabrescente, monospermo, indeiscente, de 3-6 x 2-2,5 cm. Semente pardo-amarelada ou marrom, elíptica a semicircular, lisa, dura, de 5-6 x 4-5 mm.
Ocorre no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru e Brasil, em todas as sua unidades federativas. Habita florestas estacionais subcaducifólias e caducifólias, e florestas ribeirinhas situadas em solos bem drenados de média a alta fertilidade. É uma das espécies arbóreas mais frequentes e notáveis nas formações florestais do Cerrado.
Perde a folhagem na estação seca, brota e floresce entre outubro e novembro e apresentam frutos maduros entre julho e setembro. A floração é errática em muitos indivíduos, ocorrendo anualmente ou a cada 2 ou 3 anos. As flores são frequentadas por insetos de diversas ordens, com predominância de himenópteros e com destaque para abelhas. Os frutos caem sob a planta-mãe ou são dispersos por ventos fortes para os arredores. As sementes são predadas por bruquídeos que perfuram os frutos. As ocorrência de flores andróginas e masculinas em uma única inflorescência foi considerada por Souza et al. (2010) como indicativo de um sistema de cruzamento andromonoico.
A madeira de A. leiocarpa, apesar de ser difícil de serrar, aplainar e polir, é utilizada em vários tipos de obras no meio urbano e no rural, bem como em confecção de móveis, cancelas, carrocerias, tonéis e e objetos decorativos. A casca é utilizada para curtir couros; e na fitoterapia popular, como adstringente e cicatrizante; e segundo Braz Filho & Gottieb (1971), possui flavonas e outras substâncias com potencial de uso na indústria química. As sementes possuem lecitinas com propriedades bactericidas. As flores são uma fonte importante de néctar e pólen para abelhas. A espécie é apropriada para arborização urbana e rural, recomposição de áreas desmatadas e implantação de sistemas agroflorestais.
O tegumento das sementes de A. leiocarpa é praticamente impermeável à água. Os tratamentos preconizados para superar a dormência imposta por esse revestimento têm sido os seguintes: a) imersão das sementes em água na temperatura ambiente por 24-48 horas; b) imersão em água aquecida a 80º C, seguida de repouso nessa mesma água por 12 horas, para embebição; c) imersão em ácido sulfúrico concentrado por 2 minutos; e d) escarificação do tegumento com lixa, no lado oposto ao do embrião. A semeadura deve ser feita imediatamente após o tratamento, em sementeiras ou em recipientes de 25 x 15 cm, contendo substrato organo-argiloso e dispostos em ambiente com 30% a 50% de sombreamento. O plantio das mudas deve ser em áreas parcialmente sombreadas que, preferencialmente, tenham solo de média a alta fertilidade.
A. leiocarpa ocorre em áreas já bastante fragmentadas pelo exercício de atividades agropastoris e minerárias (principalmente extração de calcário) e é objeto de corte para utilização da madeira. Entretanto, mas possui ampla dispersão e alta frequência no Cerrado, ocorre em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e está presente diversas em unidades de conservação de proteção integral nesse bioma.
Comentário: Existem registros de nódulos de bactérias fixadoras de nitrogênio em radicelas de mudas de A. leiocarpa na fase de viveiro, mas ainda falta informação sobre nodulação em plantas adultas e sobre a atividade da nitrogenase na interação planta-microrganismo.
Indivíduo em floresta estacional subcaducifólia convertida em pastagem. Araguari (MG), 31-12-2016
Superfície do tronco de um indivíduo de grande porte. Araguari (MG), 31-12-2016
Folhas. Uberlândia (MG), 09-10-2021
Inflorescência. e folhas novas Grupiara (MG), 06-10-2014
Frutos maduros e sementes. Cascalho Rico (MG), 08-11-2021
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Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. was last modified: junho 20th, 2022 por Benedito Alísio da Silva Pereira