Anacardium occidentale L.

Sinônimos: Anacardium amilcarianum  Machado, A. curatellaefolium  A. St.-Hil.,  A. kuhlmannianum  Machado, A. microcarpum Ducke, A. othonianum Rizzini, A. rondonianum  Machado

Cajueiro-do-cerrado, caju-do-cerrado, cajuí

Árvore inerme, perenifólia a subcaducifólia, heliófila, andromonóica, até 12 m de altura e 30 cm de DAP. Ritidoma cinzento a pardacento, fissurado e descamante; casca interna avermelhada, com exsudato da mesma cor. Madeira brancacenta, leve a moderadamente pesada. Folhas simples, alterno-espiraladas, curto-pecioladas, obovadas ou elípticas,  glabras, de margem inteira, com 8-16 x 5-12 cm Inflorescências corimbiformes, axilares ou terminais, glabras, largas, com 14-25 cm de comprimento. Flores pediceladas diclamídeas, pentâmeras, actinomorfas, hermafroditas e masculinas na mesma inflorescência, com 8-10 mm de comprimento; corola predominantemente róseo-avermelhada.  Frutos (‘castanhas’)  reniformes, cinzentos,  monospermos, resiníferos, com até 3 x 2 cm, ligados ao ramo florífero pelo hipocarpo ou’ pseudofruto’, órgão vermelho ou amarelo e suculento quando maduro, derivado da intumescimento do pedicelo. Sementes brancacentas, reniformes, com 1,5-2 cm de comprimento. Hipocarpos subglobosos ou piriformes, vermelhos ou amarelos, suculentos,  com ± 2,5 x 3 cm.

Ocorre na maior parte da área de abrangência do Cerrado, sendo mais frequente em Goiás, Tocantins, Maranhão e Piauí. Seus habitats preferenciais são os cerrados e cerradões vinculados a solos de textura grosseira, elevada acidez e baixa fertilidade. É considerada a forma silvestre do cajueiro comum, cultivado em pomares no Brasil e em vários outros países tropicais.

Floresce de fins de julho a meados de setembro.  Apresenta frutos maduros entre setembro e novembro. As flores  são polinizadas por abelhas e vespas. As sementes são dispersas por morcegos, primatas e aves de grande porte que se alimentam dos hipocarpos. A espécie é considerada autógama com alto grau de alogamia.

Fornece madeira utilizável em construções provisórias no meio rual e em confecção de móveis simples e de utensílios domésticos. Os  hipocarpos são consumidos pelo homem, in natura e na forma de suco, doce e licor; e por animais arborícolas e terrestres. As sementes também são consumidas pelo homem, após serem torradas com cuidado, devido à existência de um óleo-resina cáustico e tóxico no pericarpo do fruto. As flores são fonte de néctar e pólen para abelhas e outros himenópteros. As folhas são usadas na fitoterapia popular, como antidiabético, anti-inflamatório e cicatrizante. O tronco e os galhos mais grossos costumam ser perfurados por primatas que se alimentam das bolotas de goma que se formam após a exsudação da seiva. A espécie é indicada para formação de pomares de fruteiras nativas, implantação de sistemas agroflorestais e recomposição de áreas alteradas em cerrados, e vem sendo usada como porta-enxerto para as variedades de cajueiro cultivadas comercialmente.

O cajueiro-do-cerrado pode ser propagado por sementes e por meio de enxertia por garfagem, quando se deseja obter indivíduos adultos de pequeno porte. Na propagação por sementes não é necessário remover a casca (pericarpo) do fruto ou castanha. A semeadura pode ser realizada em recipientes ou diretamente no solo. Em condições de viveiro a germinação começa a partir do sexto dia após a semeadura e as plântulas são de crescimento lento e susceptíveis à antracnose, uma doença fúngica que afeta as folhas.

A. occidentale possui ampla dispersão no Cerrado, predomina em terrenos pouco favoráveis para atividades agropastoris e ocorre em unidades  de conservação de proteção integral nesse bioma. Mesmo assim, as suas populações vêm sendo gradativamente reduzidas, devido ao aumento das intervenções humanas na natureza.

Indivíduo florido em cerrado alterado pelo homem. São Domingos (GO), 24-08-2017

Superfície do ritidoma. São Domingos (GO), 24-08-2017

Inflorescências. São Domingos (GO), 24-08-2017

Frutos (hipocarpo ou ‘pseudofruto’ + fruto propriamente dito ou ‘castanha’) maduros. Teresina de Goiás (GO), 22-10-2017

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