Articum, araticum-cagão, coração-de-boi
Árvore inerme, caducifólia, heliófila, monoica, com até 18 m de altura e 60 cm de DAP; geralmente com sapopemas; partes vegetativas e frutos verdes com odor característico, derivado de óleos essenciais. Ritidoma cinzento a pardacento, muito fissurado e desprendendo-se em tiras longas, quebradiças; casca interna brancacenta, fibrosa. Madeira marrom-clara, leve e macia. Folhas simples, alternas, glabras, ou pilosas na face inferior, geralmente elípticas, com 7-15 x 3-5 cm. Flores hermafroditas, actinomorfas, diclamídeas, com 2-3 cm de comprimento e dois anéis trímeros de pétalas variando de avermelhadas a amareladas. Frutos múltiplos, ovados, polispermos, com carpídios pouco salientes; verde-amarelados, com até 15 x 10 cm e às vezes pesando quase 1 kg quando maduros. Sementes marrons, obovadas, duras, com ± 12 x 7 mm, imersas em uma polpa amarelada, mole, odorífera, comestível.
Ocorre no nordeste da Argentina, leste do Paraguai e no Brasil, com registros de ocorrência nos estados das regiões Sul e Sudeste e em Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia. A sua ocorrência no Cerrado parece estar limitada ao centro-sul desse bioma, onde é esporadicamente encontrada em florestas estacionais perenifólias e subcaducifólia e mais raramente em florestas ribeirinhas ligadas a solos bem drenados.
Apresenta-se desfolhada na estação seca, floresce em novembro e dezembro e apresenta maduros em fevereiro e março. As flores são frequentadas por abelhas silvestres e besouros, sendo estes os seus mais prováveis polinizadores. As sementes parecem ser dispersas por mamíferos arborícolas e terrestres.
Fornece madeira apropriada para construção de forros e para confecção de caixotes, brinquedos e alguns tipos de utensílios domésticos. Os frutos entram na dieta de vários membros da fauna silvestre e são agradáveis ao paladar humano, mas provocam disenteria, só devendo ser ingeridos em pequenas porções. A espécie pode ser empregada em arborização de áreas espaçosas no meio urbano e é altamente indicada para recomposição de áreas desmatadas, devido ao seu rápido crescimento e alta oferta de alimento para a fauna
As sementes de A. cacans possuem dormência e por esta razão demoram para germinar. Como essa dormência era atribuída à impermeabilidade do tegumento, a recomendação tradicional para superá-la é a de escarificar as sementes com lixa ou um objeto cortante, para facilitar a entrada de água no embrião. Atualmente, com o descoberta de que a dormência nessas sementes é causada pela presença de embrião imaturo e de substâncias inibidoras de germinação (Dalanhol et al., 2013), a recomendação que está começando a prevalecer é a de tratá-las com ácido giberélico e depois estratificá-las em areia. Vale mencionar que em um experimento realizado por Melo (1993) a dormência das sementes de Annona crassiflora, também abordada neste trabalho, foi melhor superada quando escarificadas e imersas em solução de ácido giberélico nas concentrações de 500, 1000 e 2000 mg/L-1 por 72 horas. As plântulas e os indivíduos juvenis de A. cacans no campo têm sido classificados como de crescimento rápido.
A. cacans ocorre em menos da metade da área de abrangência do Cerrado, é pouco encontrada em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e não possui registros de ocorrência em unidades de preservação de proteção integral nesse bioma.
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Árvore alta, com copa larga, na floresta subcaducifólia do Bosque John Kennedy. Araguari (MG), 10-07-2016
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Superfície do ritidoma. Araguari (MG), 10-07-2016
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Folhas e flores. Araguari (MG), 12-11-2016
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Frutos maduros. Uberlândia (MG), 16-03-2016
LITERATURA
CARVALHO, P. E. R. 2006. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica/Embrapa Florestas, v.2, 627 p.
DALANHOL, S.J. et al. 2013. Dormência em sementes de Annona cacans Warm. (Annonaceae). Revista Acadêmica, Ciências Agrárias e Ambientais, v.11, Supl. 1, p. 183-189.
GOTTSBERGER, G. 1989. Beetle pollination and flowering rhythm of Annona spp. (Annonaceae) in Brazil. Plant Systematics and Evolution, n.167, p.165-187
LORENZI, H. 1992. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa (SP): Editora Plantarum, 352 p.
MAAS, P.J.M. et al. 2001. Annonnaceae from Central-eastern Brazil. Rodriguésia v.52, n.80, p.65-98.
MELO, J.T. 1993. Efeito do ácido giberélico-Ga3 sobre a germinação de sementes de araticum (Annona crassiflora Mart.). In: Anais do I Congresso Florestal Panamericano e do VII Congresso Florestal Brasileiro, Curitiba: Sociedade Brasileira de Silvicultura e Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais, v.2, p.760.