Criúva, piroroca
Em conclusão
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Árvore em cerradão convertido em pastagem, com casulos brancos de um lepidóptero nas extremidades dos ramos. São João da Aliança (GO)
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Superfície do ritidoma de um tronco com raízes adventícias. Cavalcante (GO)
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Flor. São João da Aliança (GO)
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Folhas e frutos imaturos. Cavalcante (GO)
LITERATURA
Nascimento Jr, J.E.; Alencar, A.C. Clusia in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB28292>. Acesso em: 23 fev. 2023.
Rascunho:
Árvore heliófila, perenifólia, até 10m de altura; látex branco. Tronco reto, eventualmente tortuoso, tendendo a cilíndrico, curto nos indivíduos isolados, longo nos indivíduos de vegetação fechada, com raízes adventícias, até 35cm de DAP. Casca moderadamente espessa; ritidoma cinzento ou pardacento, íntegro ou dividido e descamante; casca viva róseo-avermelhada. Madeira moderadamente pesada; cerne branco encardido ou amarelado. Copa subglobosa, umbeliforme ou assimétrica, geralmente larga e com esgalhamento ascendente. Râmulos glabros, verdes no ápice. Folhas glabras; pecíolo achatado, com 1,5-2cm de compr.; lâmina discolor, espessa, tendendo a suculenta, coriácea, geralmente obovada, com 7-14 x 5-8cm, base obtusa a cuneada, ápice arredondado a obtuso, margem revoluta, nervura principal saliente nas duas faces, nervuras secundárias finas, imersas no mesofilo. Inflorescência com 1-6 flores na planta masculina e 5-9 na feminina; brácteas e bractéolas pequenas, decíduas. Flores curto-pediceladas, com 2,5-3cm de diâm.; cálice com 5-6 sépalas membranáceas; pétalas vermelhas; órgãos reprodutores amarelos; flores masculinas resiníferas, com numerosos estames dotados de anteras pegajosas e com pistilódio provido de 5 estigmas terminais; flores femininas com ovário grande, circundado por 8-10 estaminódios. Frutos obovados a elipsóides, glabros, amarelados na maturação, com 3-4 x 2-2,5cm e com vestígios dos estigmas no ápice. Sementes 15-25 por fruto, oblongas a reniformes, marom-claras, com 3-6mm de compr.; arilos rosado.
É considerada endêmica das áreas de atitudes elevadas (900-1.400m a.n.m.) do centro e centro-leste de Goiás (Serra dos Pirineus, Serra Dourada e Chapada dos Veadeiros) e do sul do Tocantins (Serra de Natividade). A Serra dos Pirineus e a Chapada dos Veadeiros integram a Região Geoeconômica de Brasília e possuem as principais populações de C. burchellii no Brasil Central A espécie é mais frequente no polígono formado pelos municípios de São João D’Aliança, Alto Paraíso de Goiás, Teresina de Goiás e Cavalcante, nessa chapada, e ocorre em cerrados, cerradões e florestas-galerias, em solos que variam de rasos e rochosos a profundos e argilosos.
Perde e adquire folhas durante todo o ano. As coleções de material botânico existentes nos herbários indicam que a floração se concentra no período de fevereiro a abril e que a maturação de frutos se estende de agosto a novembro. Foi constatado que alguns indivíduos florescem em outras épocas e apresentam sobreposição de flores e frutos maduros, indicando longo período de esforço reprodutivo ou assincronia na fenologia reprodutiva.
As flores são frequentadas por besouros e abelhas silvestres. Estas são mais constantes e aparentemente são atraídas pela resina produzida pelas flores. Estudos sobre biologia reprodutiva em Clusia (BITTRICH, 1994; CARMO e FRANCESCHINELLI, 2002; CORREIA 1983 e 1993), evidenciaram que algumas espécies desse gênero são polinizadas por abelhas e outras por besouros. Foi constatado que as sementes de C. burchellii são ingeridas por pássaros que se alimentam de arilo e que as sementes dos frutos que caem ao chão são transportadas por formigas do gênero Atta, para o interior dos seus ninhos.
1) Madeira: usada esporadicamente em construção de cercas e como lenha. 2) Flores: fonte de recursos para insetos. 3) Frutos: fonte de alimento para pássaros. 4) Espécie: arborização urbana e rural; recomposição de áreas alteradas em florestas-galerias e cerrados.
Nota: C. burchellii possui folhagem e flores altamente decorativas. Alguns viveiristas já produzem mudas para comercialização, mas de forma esporádica e em pequena escala.
Retirar sementes de frutos abertos ou em vias de se abrirem. Colocá-las em uma peneira de malha fina, lavá-las com água corrente e secá-las à sombra. Distribuí-las em canteiros preparados com terra argilo-arenosa misturada com esterco curtido na proporção de 2:1. Manter os canteiros sob sombreamento parcial e sempre úmidos. Transferir as plântulas com 3-4cm de altura para recipientes com 25 x 15cm, contendo o mesmo tipo de substrato. Plantar as mudas em áreas ensolaradas ou parcialmente sombreadas que, preferencialmente, tenham solos similares aos dos seus habitats.
Nota: C. burchellii pode ser propagada também por via vegetativa. O método, até agora testado apenas empiricamente, consiste em preparar estacas com 1-1,5cm de diâm. e 15-20cm de compr., a partir de ramos novos (mas não verdes), e cravá-las em recipientes contendo terra argilo-arenosa misturada com esterco curtido na proporção de 1:1. É provável que a espécie possa ser propagada também por alporquia.
C. burchellii tem distribuição relativamente restrita na Região Geoeconômica de Brasília, mas prepondera em áreas de preservação permanente (florestas-galerias) e em terrenos pedregosos de difícil acesso e com limitações para atividades agropastoris. Além disso, possui populações em unidades de conservação de proteção integral.
C. burchellii é hospedeira de uma espécie de lepidóptero que no estágio larval se alimenta das folhas e constrói casulos de 30 a 50cm de comprimento, brancos, sedosos e resistentes nas extremidades dos ramos das árvores. Esses casulos são aberrantes e quando abandonados pelo lepidóptero, passam a servir de abrigo para outros insetos e outros grupos de pequenos animais. Os trabalhos sobre relação planta-animal em Clusia não trazem informação a respeito desse tipo de casulo.