Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi

Sinônimo: Rheedia gardneriana Planch. & Triana

Saputá, bacupari, bacuri

Árvore inerme, perenifólia a subcaducifólia, semi-ciófila a heliófila, dioica, latescente, de até 10 m de altura e 30 cm de DAP; látex amarelado. Madeira moderadamente pesada; cerne marrom ou bege, macio ao tato. Ritidoma moderadamente espesso, cinzento a pardacento, sulcado e consistente; casca interna róseo-avermelhada.  Râmulos roliços a achatados, glabros, variando de verdes a cinzentos e a amarronzados. Folhas simples, opostas, glabras; pecíolo canaliculado, de 10-15 mm de comprimento; lâmina subcoriácea, elíptica ou obovada, discolor, de 5-10 x 3,5-6 cm. Inflorescências fasciculadas, axilares, polígamo-dioicas, de 1,5-4 cm de comprimento e 5-15 flores. Flores diclamídeas, actinomorfas, com duas sépalas branco-esverdeadas, unidas na base e quatro pétalas brancas, reflexas na antese; pedicelos finos, de 1.5-2,5 cm de comprimento. Flores masculinas com estames livres, numerosos, bisseriados e um rudimento de ovário. Flores andróginas com pedicelos espessos; androceu com 10-16 estames unisseriados; e gineceu com ovário súpero, trilocular, dotado de estilete e estigma curtos. Frutos variando de globosos a elipsoides, na maioria das vezes monospermos, de 3-4 cm de comprimento, amarelos e suculentos na maturação. Sementes elipsoides a subglobosas, de 1,5-2,5 cm de comprimento, com tegumento marrom, estreito e estriado; envolta em uma polpa alva, palatável.

Ocorre na Bolívia e no Brasil, sempre em formações florestais. A sua área atualmente conhecida de dispersão no território brasileiro compreende todos os estados das regiões Sul e Sudeste, além Goiás, Mato Grosso, Amazonas, Pará, Piauí e Bahia. É encontrada na maior parte da área de abrangência do Cerrado, em florestas ribeirinhas e florestas estacionais subcaducifólias, mas de forma muito esporádica.

Pode perder uma parte da folhagem na estação seca; geralmente, floresce de junho a julho; e apresenta frutos maduros de setembro a novembro. As flores são frequentadas por abelhas silvestres e moscas. As sementes parecem ser dispersas principalmente por morcegos.

A madeira é apropriada para construção de estruturas de telhado, forros, tabuados e rodapés, e para confecção de cabos de ferramentas, tamancos e brinquedos, entre outros artefatos. As flores oferecem recursos alimentares aos seus visitantes.  Os frutos maduros entram na dieta de morcegos, primatas, aves e mamíferos terrestres; além disso são apreciados pelo homem, que os consomem in natura e, mais raramente, na forma de suco, doce e licor. A espécie merece destaque em projetos de arborização urbana, de recomposição de áreas desmatadas, de formação de pomares de frutíferas não convencionais e de criação de bancos de porta-enxertos para espécies de Garcinia cultivadas com fins comerciais, como o mangostão (G. mangostana).

Para formação de mudas em pequena escala o protocolo recomendado tem sido o seguinte: 1) Retirar sementes de frutos bem maduros. 2) Remover a polpa que as envolvem. 3) Secá-las à sombra e em seguida colocá-las para germinar em sementeiras, para posterior repicagem das plântulas, ou em  recipientes de 25 x 15 cm, contendo terra argilo-arenosa misturada com esterco curtido na proporção de 1:1. 4) Colocar os recipientes em local sombreado e mantê-los sempre úmidos. 5) Reduzir gradativamente o sombreamento quando as plântulas atingirem 5-10 cm de altura. Área de plantio das mudas deve ter em torno de 50% de sombreamento e possuir solo bem drenado, de média a alta fertilidade; ou que tenham recebido adições de calcário, matéria orgânica e NPK, após análise físico-química.

G. gardneriana ocorre em áreas de preservação permanente (florestas-galerias), mas é rara na maior parte da área de abrangência do Cerrado e ainda não possui registros de presença em unidades de conservação de proteção integral nesse bioma.

Notas

1) Franco et al. (2007) constataram, mediante estudo em casa de vegetação, que G. gardneriana pode ser propagada por via vegetativa, mas que, nas condições do experimento, o enraizamento das estacas foi baixo, mesmo quando tratadas com ácido indolil-3-burtírico (AIB). Os autores consideraram que fatores como idade dos ramos e época de coleta das estacas devem ter influencia nas taxas de enraizamento.

2) G. gardneriana foi objeto de alguns estudos fitoquímicos. Braz Filho et al. (1970) isolaram várias xantonas e terpenos do lenho e da casca do tronco; Santos et al. (1999) encontraram esteroides, terpenos, flavonoides e uma benzofenona nos frutos; e Luzzi et al. (1997) isolaram vários flavonoides das folhas. Alguns destes flavonoides foram testados em laboratório e apresentaram  atividade analgésica.

Superfície do ritidoma e cor da casca interna. Mambaí (GO), 14-11-2010

Folhas. Bosque John Kennedy, Araguari (MG), 12-12-2016

Flores andróginas. Uberlândia (MG), 09-06-2016

Frutos maduros, um deles cortado ao meio para mostrar a semente. Uberlândia (MG), 26-11-2019

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