Árvore inerme, perenifólia ou subcaducifólia, heliófila, dioica, resinífera, até 14 m de altura e 50 cm de DAP; resina esbranquiçada. Ritidoma cinzento a pardacento, íntegro ou fissurada e superficialmente descamante; casca interna rosada. Madeira leve, de cor marrom-clara. Ramos glabros. Folhas alternas, imparipinadas, glabras, com 5-11 folíolos (sub)opostos, de 7-15 x 4-7 cm. Inflorescências paniculadas, glabras, com 10-20 cm de comprimento, as das árvores masculinas maiores e com mais flores do que as das femininas. Flores amarelo-esverdeadas, diclamídeas, pentâmeras, actinomorfas, com 3-4 mm de comprimento e diâmetro. Frutos elípticos a oblongos, monospermos; roxo-escuros, suculentos e com 7-10 mm de comprimento quando maduros. Sementes elipsoides, com 4-6 mm de comprimento.
Distribui-se da América Central ao nordeste da Argentina e ao litoral norte do Rio Grande do Sul, passando pela maioria dos países sul-americanos e irradiando-se por todas as unidades federativas do Brasil. É um dos elementos arbóreos mais importantes das florestas ribeirinhas do Cerrado, principalmente daquelas vinculadas a superfícies encharcadas.
Normalmente, os indivíduos perdem uma parte das folhas na estação seca, mas logo repõem as folhas perdidas. Em algumas populações os indivíduos apresentam dois períodos de floração: de fevereiro a abril e em agosto e setembro. Nesses populações, pode-se observar frutos maduros em maio e junho e de dezembro a fevereiro. As flores são polinizadas por pequenas abelhas sociais, mas são frequentadas por várias outras espécies de insetos. Lenza & Oliveira (2005) constataram em Minas Gerais que essa espécie apresenta baixa taxa de formação de frutos por apomixia, o que realça a importância dos seus polinizadores. Os frutos são dispersos por aves, com destaque para pombas silvestres, e são ingeridos por animais terrestres.
Fornece madeira pouco durável, mas considerada boa fonte de energia e útil para construções provisórias no meio rural, bem como para confecção de caixotes, molduras, móveis comuns, esculturas, brinquedos, utensílios domésticos e cabos de vassoura, entre outros artefatos. Os troncos costumam ser perfurados por primatas que se alimentam das bolotas de goma que se formam após a exsudação da seiva. As folhas e a casca do tronco possuem uma série de constituintes químicos (Correia et al., 2003) e, apesar de serem consideradas vesicantes e tóxicas, são usadas na medicina popular contra dermatoses e sífilis. As flores masculinas fornecem pólen e néctar e as femininas apenas néctar aos seus visitantes. Os frutos entram na dieta de várias espécies de aves e de mamíferos terrestres. A espécie vem sendo empregada em arborização urbana, sobretudo em Brasília, e em recomposição de áreas desmatadas, sendo uma das mais indicadas e adequadas para essa finalidade.
É propagada por sementes, que devem ser postas para germinar logo após a colheita dos frutos e a completa limpeza do endocarpo. Quando semeadura é realizada em recipientes com substrato organo-argiloso, mantidos em ambiente parcialmente sombreado, a emergência das plântulas ocorre num prazo de 10-20 dias e a taxa de germinação chega a ser de 70-90%.
Tapirira guianensis tem ampla dispersão no Cerrado, ocorre em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e está presente em várias unidades de conservação de proteção integral nesse bioma.
Distinção entre as espécies
T. guianensis pode ser distinguida de T. obtusa, também abordada neste trabalho, pelos seguintes detalhes: 1) predomina em florestas vinculadas a terrenos encharcados; 2) possui ramos, folhas e inflorescências glabros; e 3) as nervuras terciárias e quaternárias dos seus folíolos são pouco visíveis e não formam aréolas.
Indivíduo florido em floresta ribeirinha parcialmente desmatada. Pirenópolis (GO), 14-06-2004
Superfície do ritidoma e cor da casca interna. Abadia dos Dourados (MG), 07-11-2014
Inflorescências e folhas novas. Estrela do Sul (MG), 23-02-2018
Frutos maduros. Paracatu (MG), 29-02-2017
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Tapirira guianensis Aubl. was last modified: abril 29th, 2023 por Benedito Alísio da Silva Pereira