Peroba, pereiro, pereiro-amargoso, guatambu
Árvore inerme, latescente (látex branco), caducifólia, heliófila, monoica, até 12 m de altura e 25 cm de DAP. Tronco retilíneo ou tortuoso, roliço ou acanalado. Casca moderadamente espessa; ritidoma cinzento a pardacento, verrucoso, íntegro ou estreitamente fissurado; casca interna amarelada. Madeira moderadamente pesada; cerne amarelado a marrom-claro, de texto fina. Râmulos castanhos, lenticelados, verdes e velutinos quando jovens. Folhas simples, alternas, obovadas a elípticas, membranáceas a cartáceas, glabrescentes ou pilosas na face inferior, de 3-10 x 2,5-6 cm; pecíolo de 4-7 mm de comprimento. Inflorescências paniculadas, opositifólias, pilosas, de 3-5 cm de comprimento. Flores pentâmeras, actinomorfas, curto-pediceladas, perfumadas, de 4-6 mm de comprimento; cálice curto, piloso; corola amarelada, gamopétala, pilosa na face interna do tubo. Frutos falciforme, compressos, costados, mucronados, lenticelados, secos, lenhosos, deiscentes, de 3-4 x 2-3 cm. Sementes geralmente 4 por fruto, planas, semicirculares, com tegumento membranáceo, castanho-caro, contornadas por uma membrana bege, elíptica, de 2,5-3,5 x 1,5-2 cm.
Possui registros de ocorrência nas unidades federativas da região Centro-Oeste e nos estados do Tocantins, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. É encontrada na maior da área de abrangência do Cerrado, em florestas estacionais subcaducifólias e caducifólias e em florestas ribeirinhas, mas com baixa frequência. Ocorre também em algumas ilhas do Caribe, como o Haiti e a República Dominicana, e na Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Paraguai.
A. cuspa perde as folhas na estação seca; floresce com folhas novas, em novembro e dezembro; e dispersa as sementes no fim da estação seca. As flores atraem himenópteros de pequeno porte, mas os seus polinizadores ainda não são conhecidos. As sementes são dispersas pelo vento.
A madeira de A. cuspa possui propriedades que a tornam adequada para utilização na construção civil, mas devido às reduzidas dimensões dos troncos da maioria dos indivíduos, é mais usada para confeccionar móveis, molduras, esculturas, cabos de ferramentas e utensílios domésticos. A infusão da casca do tronco é empregada na fitoterapia popular, contra dores, infecções, inflamações, malária, hanseníase, enfisema, bronquite, pneumonia e impotência sexual, com os estudos farmacológicos até agora realizados corroborando a sua eficácia contra apenas uma parte dessas males e atribuindo-a a alcaloides indólicos. A espécie merece ser incluída em projetos de arborização urbana, pela sua raridade e pela necessidade de auxiliar na conservação da sua diversidade genética da flora nativa.
A. cuspa é propagada por meio de sementes, que podem ser recolhidas no chão ou retiradas de frutos coletados nas árvores no início da deiscência. Após a colheita, deve-se aparar a asa das sementes e em seguida colocá-las para germinar em sementeiras contendo terra argilo-arenosa misturada com esterco curtido no proporção de 2:1, ambiente com 40% a 50% de sombreamento. As plântulas devem ser transferidas para recipientes maiores quando estiverem com 3-5 cm de altura.
A. cuspa tem dispersão relativamente ampla no Cerrado, mas ocorre em áreas preferenciais para atividades agropastoris; está subsistindo em fragmentos floretais sujeitos a derrubadas de árvores, invasões de gado e incêndios; e não possui registros de ocorrência em unidades de conservação de proteção integral nesse bioma. Atualmente, tem a seu favor apenas o fato de ocorrer também em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas).
Distinção da espécie
A. cuspa se distingue das suas congenéricas tratadas neste trabalho pelas inflorescências pequenas, paniculadas e opostas às folhas; e pelos frutos, de formato algo falciforme, levemente achatados e com nervuras proeminentes.