Magnolia ovata (A.St.-Hil.) Spreng.

Sinônimo: Talauma ovata A.St.-Hil.

Pinha-do-brejo, magnólia-do-brejo, baguassu, baguaçu

Árvore inerme, perenifólia, heliófila, monoica, com até 18 m de altura e 50 cm de DAP; às vezes com sapopemas e pneumatóforos; entrecasca e folhas aromáticas. Ritidoma cinzento, íntegro ou superficialmente dividido e descamante; casca interna vermelha,exsudando seiva da mesma cor. Madeira brancacenta ou amarelada, moderadamente pesada. Folhas simples, alternas, glabras, ovadas ou elípticas, com 20-30 x 10-15; estípulas verde-claras, com 10-15 cm de comprimento, envolvendo a gema terminal do ramo. Flores diclamídeas, perfumadas, grandes e vistosas; cálice com 3 sépalas esverdeadas externamente e brancas internamente, medindo 7 x 5 cm;  corola com 6 pétalas brancas, carnosas, dispostas em duas séries, com 5-8 x 3-6 cm. Fruto subgloboso, com tamanho e aparência similares aos de uma ata ou pinha (fruta da família Annonaceae encontrada no comércio), mas lenhoso, deiscente e com as sementes alojadas em alvéolos situados em um eixo central, cônico. Sementes 50 a 140 por fruto, escuras, com 9-11 x 7-9 mm, ligadas aos alvéolos por um funículo filiforme, longo e envolvidas por arilo vermelho, oleoso.

Ocorre em todas as unidades federativas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil e nos estados do Tocantins e da Bahia. Nas regiões onde não há período seco, é encontrada tanto em planícies encharcadas quanto em encostas bem drenadas, mas no Cerrado apresenta alta seletividade, ocorrendo somente em florestas ribeirinhas vinculadas a terrenos encharcados.

Floresce entre outubro e dezembro, com pico em novembro, e apresenta frutos maduros de agosto a outubro.  As flores são polinizadas por besouros que nelas penetram no início da noite, atraídos pelo perfume que elas exalam, e no começo da noite seguinte passam para outra flor cobertos de grãos de pólen. As sementes são ornitocóricas, com os sanhaços sendo considerados os seus principais dispersores no Cerrado.

Produz madeira apropriada para confeccionar forros, molduras, esculturas, caixotes, urnas funerárias, tamancos, brinquedos etc. Fornece alimento para aves que ingerem sementes revestidas de arilo. As flores podem ser usadas para enfeitar e perfumar ambientes e os frutos servem para confeccionar objetivos decorativos. Estudos recentes revelaram que a casca do tronco e galhos dessa espécie possui substâncias com propriedades antipiréticas, analgésicas e anti-inflamatórias; que as folhas contêm compostos com propriedades antimicrobianas e antitumorais; e que o fruto verde possui óleos essenciais e uma série de outros compostos químicos, alguns com propriedades ainda não conhecidas. No entanto, o uso em estado bruto dessas partes da planta na medicinal popular não tem sido recomendado pelos estudiosos, devido à coocorrência de substâncias tóxicas. A espécie, por ser perenifólia e produzir flores e frutos fora do comum, é indicada para arborização urbana; e por causa da sua importância para a fauna, torna-se prioritária em projetos de recomposição de florestas ribeirinhas em solos encharcados.

É propagada por sementes, que devem: 1) ser novas; 2) estar isentas do arilo que as envolvem, o qual pode ser removido mediante imersão em água com detergente por 12-24 e posterior lavagem em água corrente; 3) ser secas à sombra por 24 horas; e 4) ser colocadas para germinar em canteiros contendo terra argilo-arenosa misturada com esterco curtido na proporção de 1:1 e sob cobertura que proporcione cerca de 50% de sombreamento. As plântulas emergem um prazo de 30 a 60 dias e quando estiverem com 3-5 cm de altura devem ser transferidas para recipientes com mais de 20 cm de altura, contendo substrato com pH entre 5 e 6 e teores medianos de macronutrientes e matéria orgânica. O crescimento das plântulas tem sido classificado como moderado.

M ovata possui ampla dispersão no Cerrado, é própria de um tipo especial de área de preservação permanente (floresta ribeirinha vinculada a áreas encharcadas) e está presente em diversas unidades de conservação de proteção integral nesse bioma. A descoberta de que indivíduos de populações do Cerrado possuem substâncias químicas diferentes das encontradas em indivíduos da Mata Atlântica (Stefanello et al., 2005), indica que é recomendável garantir a integridade de um grande número de populações dessa singular espécie arbórea brasileira.

Grupo de indivíduos em floresta ribeirinha vinculada a terreno encharcado. Coromandel (MG), 13-08-2014

Superfície do ritidoma em um indivíduo de grande porte. Paracatu (MG), 23-07-2016

Flor. Coromandel (MG), 13-11-2014

Fruto quase maduro. Coromandel (MG), 30-07-2014

Fruto maduro expondo as sementes. Coromandel (MG), 04-08-2014

 LITERATURA
ALMEIDA, S.P. et al. 1998. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina (DF): EMBRAPA-CPAC, 464 p.
ANTUNES, N.B. & RIBEIRO, J.F. 1999. Aspectos fenológicos de seis espécies vegetais em matas de galeria do distrito federal. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.34, n.9, p.1517-1527.
BARROS, L.F. et al. 2009. Constituents of the leaves of Magnolia ovata. Journal of Natural Products, v.72, n.8, p.1529-1532.
BARROS, L.F. et al. 2012. Essential oil and other constituents from Magnolia ovata fruit. Natural Products Communications, v.7, n.10, p.1365-1367.
CARVALHO, P.E.R. 2003. Baguaçu. Colombo (PR): Embrapa Florestas. (Circular TécnIca n.72).
CAZETTA, E. et al. 2002. Frugivoria e dispersão de sementes de Talauma ovata (Magnoliaceae) no sudeste brasileiro. Ararajuba, v.10, p.199-206.
LORENZI, H. 1992. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa (SP): Instituto Plantarum, v.1, 1a  ed., p .231.
MORI, L.S. et al. 2011. Analgesic effects of the ethanolic extract from Magnolia ovata (Magnoliaceae) trunk bark and of N-acetylxylopine, a semi-synthetic analogue of xylopine. Phytomedicine, v.18, n.2-3, p.143-147.
 SILVA JÚNIOR, M.C. & PEREIRA, B.A.S. 2009. + 100 Árvores do Cerrado: Matas de Galeria: Guia de Campo. Brasília: Rede de Sementes do Cerrado, p.84-85.
STEFANELLO, M.E.A. et al. 2005. Ocorrência de quimiotipos em Talauma ovata, uma planta medicinal brasileira. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.8, n.1, p.1-3.
Site Protection is enabled by using WP Site Protector from Exattosoft.com