Tamboril, tamboril-da-mata, orelha-de-negro, orelha-de-macaco, timboúva
Árvore inerme, caducifólia, heliófila, monoica, até 20 m de altura 100 cm de DAP. Casca espessa; ritidoma cinzento, dividido e descamante ou praticamente integro e lenticelado, frequentemente com bolotas de goma na superfície; casca interna amarelada a rosada, com veios brancacentos. Madeira leve; cerne pardo-amarelado a marrom, geralmente com listras escuras. Folhas alternas, bipinadas, paripinadas, glabras a pubescentes, com 2-7 pares de pinas opostas; raque de 15-30 cm de comprimento, com um nectário extrafloral abaixo do par basal e entre os pares superiores de pínulas ; pínulas opostas, paripinadas, com 10-20 pares de folíolos; raquilas com 10-15 cm de comprimento; foliólulos sésseis, falcados, discolores, cartáceos, de 10-15 x 5-8 mm. Inflorescências globosas, densas, glabras ou pilosas, axilares, isoladas ou em grupos, com ± 2,5 cm de diâmetro e 10-20 flores. Flores diclamídeas, actinomorfas, andróginas, pilosas, sésseis ou sub-sésseis, de 8-12 mm de comprimento; corola alva, tubulosa; estames exsertos, alvos com anteras amarelas. Fruto seco, indeiscente, polispermo, de formato semi-circular, lembrando uma orelha humana; com epicarpo negro ou marrom, glabro; mesocarpo branco-amarelado, fibro-lenhoso; endocarpo sublenhoso; e 5-7 cm de diâmetro. Sementes entre amareladas e marrons, elipsoides, duras, com 8-12 x 4-6 mm.
Ocorre no Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e no Brasil, nas unidades federativas das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, em quase todos os estados da região Nordeste e no estado do Tocantins. Esta presente em quase toda a área de abrangência do Cerrado, habitando florestas estacionais perenifólias, subcaducifólias e caducifólias, e florestas ribeirinhas situadas em terrenos bem drenados. É uma espécie frequente e muito conhecida nesse bioma, sendo encontrada até mesmo em áreas urbanas, plantada ou preservada pelo homem.
Apresenta-se desfolhada na estação seca; floresce entre setembro e novembro, quando as folhas novas já estão bem desenvolvidas, e apresenta frutos maduros entre julho e outubro. As flores são frequentadas por borboletas, besouros e principalmente abelhas, que aparentemente são os seus polinizadores. As sementes são dispersas pelos animais que se alimentam dos frutos e que, aparentemente, são também predadores desses propágulos. As sementes às vezes são fortemente predadas por bruquídeos.
A madeira é utilizada em construção de embarcações, carrocerias, estruturas de telhado, forros e assoalhos; e em confecção de artefatos como móveis, caixotes, caixas para abelhas, molduras e brinquedos. As flores são fonte de néctar e pólen para abelhas. Os frutos maduros são consumidos por macacos, papagaios e por animais terrestres como anta, paca, cutia, porco-do-mato e veado-mateiro. As bolotas de goma entram na dieta de primatas do gênero Callithrix; os seus fragmentos são apanhados por abelhas, para elaborar própolis. Alguns estudiosos constataram que a casca do tronco e as folhas contêm substâncias com atividade bactericida, fungicida, inseticida, moluscicida e larvicida. A espécie vem tendo utilização crescente em arborização urbana, por formar árvores imponentes e decorativas, e em recomposição de áreas desmatadas; além disso, vem sendo testada em implantação de sistemas agroflorestais.
O tegumento das sementes de E. contortisiliquum, como as das outras espécies de Enterolobium e da maioria das mimosoídeas abordadas neste trabalho, é muito pouco permeável à água. Os tratamentos que podem ser adotados para promover a embebição e acelerar e uniformizar a germinação das sementes são os seguintes: a) imersão das sementes em água na temperatura ambiente por 24 horas, b) imersão em água fervente por alguns segundos, c) imersão por 5-10 minutos em água contendo 2% de ácido sulfúrico e d) escarificação do tegumento com lixa d’água 220 no lado oposto ao do embrião. A sementes devem ser postas para germinar imediatamente após o tratamento, em sementeiras ou em recipientes de 25 x 15 cm contendo substrato organo-argiloso e sob cerca de 50% de sombreamento. O plantio das mudas pode ser em áreas parcialmente sombreadas ou ensolaradas que, preferencialmente, que tenham solo profundo e de média a alta fertilidade.
E. contortisiliquum ocorre em áreas já bastante fragmentadas pela ação do homem e é objeto de corte para aproveitamento da madeira ou para evitar que o gado coma os frutos maduros, mas possui ampla dispersão no Cerrado, está presente em unidades de conservação de proteção integral nesse bioma e ocorre em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas). Além disso, vem sendo plantada pelo homem no Cerrado e até em outros países.
Comentário 1: Bovinos, caprinos e ovinos também se alimentam dos frutos de E. contortisiliquum, quando há escassez de forragem verde. Contudo, segundo alguns estudos, tais frutos contêm saponinas e outras substâncias que causam aborto em vacas, diversos tipos de distúrbios em machos e fêmeas, tanto jovens quanto adultos; e até mesmo morte, quando ingeridos em grande quantidade.
Comentário 2: Existem registros de associações de bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico e de fungos micorrízicos com raízes de plântulas e de indivíduos juvenis de E. contortisiliquum. Porém, ainda faltam registros dessas associações em indivíduos adultos.

Árvore em floresta subcaducifólia convertida em pastagem. Taguatinga do Tocantins (TO), 15-10-2017

Superfície do ritidoma. Paracatu (MG), 15-10-2017

Folhas e inflorescências. Paracatu (MG), 16-10-2017

Frutos maduros. Iaciara (GO), 21-09-2004