Árvore inerme, subcaducifólia ou caducifólia, heliófila, monoica , até 8 m de altura e 15 cm de DAP. Casca estreita; ritidoma cinzento, geralmente íntegro e com rugas e lenticelas transversais. Madeira leve; cerne pardo-amarelado. Folhas glabras ou glabrescentes, alternas, paripinadas, com 7-30 pares de folíolos, o par basal com um nectário extrafloral; pecíolo e raque totalizando 12-25 cm de comprimento; folíolos opostos, curto-peciolulados, com lâmina cartácea, oblonga a elíptica, de 2-2,8 x 1-1,5cm. Inflorescência terminal, pilosa, vistosa, de 15-25cm de compr. Flores diclamídeas, pentâmeras, zigomorfas, andróginas, amarelas, de 2,5-3 cm de comprimento; pedicelo de 2-3,5 de comprimento; androceu formado por 7 estames e 3 estaminódios. Fruto compresso, oblongo, papiráceo, polispermo, deiscente, marrom ou pardacento e com 6-12 x 1-1,7 cm quando maduros. Sementes marrons, duras, oblongas ou elípticas, de 7-10 x 3-5 mm.
S. multijuga distribui-se, representada por três subespécies, do México até o sul do Brasil, espalhando-se pela maior parte dos países centro e sul-americanos, e pela maioria das unidades federativas do Brasil. A subespécie multijuga é a mais dispersa, sendo citada para o território que vai do estado do Paraná à ilha de Trinidad, no Caribe. Esse táxon habita florestas ombrófilas, florestas estacionais e florestas ribeirinhas e ocorre em quase toda a área de abrangência do Cerrado. É encontrada em grande parte das cidades da sua área de dispersão, plantada pelo homem.
Perde uma significativa parte da folhagem na estação seca, floresce entre fevereiro e junho, e apresenta frutos maduros entre 3 e 4 meses após a floração. As flores são frequentadas por lepidópteros e himenópteros. Wolowski & Freitas (2010) constataram que em localidade Mata Atlântica os seus polinizadores foram himenópteros dos gêneros Bombus, Epicharis, Centris e Xylocopa, e que a formação de frutos depende da ação desses agentes. A dispersão das sementes se dá por gravidade, podendo ser dispersas também por redemoinhos, ainda nos frutos, que são leves e podem planar. As sementes são predadas por bruquídeos.
A madeira de S. multijugaé esporadicamente empregada em construções rústicas, de caráter provisório, e em confecção de caixotes, brinquedos, coronha de espingarda e esculturas. As flores são fonte de pólen para insetos himenópteros e alguns outros grupos de insetos. A espécie é utilizada em arborização de parques, jardins e vias públicas, e indicada para recomposição de áreas desmatadas.
O tegumento das sementes dessa fabácea é pouco permeável à água. Para abreviar e uniformizar a germinação, pode-se adotar um dos seguintes tratamentos: a) imersão em água na temperatura ambiente por 24 horas, b) imersão em água fervente por alguns segundos ou c) escarificação do tegumento com lixa d’água 220, em um dos lados da semente. A semeadura deve ser feita imediatamente após o tratamento, em sementeiras contendo substrato organo-argilosos ou em recipientes de 25 x 15 cm contendo o mesmo tipo de substrato organo-argiloso, em ambiente com cerca de 50% de sombreamento. O plantio das mudas pode ser em áreas parcialmente sombreadas ou ensolaradas, que de preferência que tenham solo profundo.
S. multijuga possui ampla dispersão no Cerrado, prolifera em áreas florestais alteradas, possui populações em unidades de conservação de proteção integral nesse bioma e vem sendo cultivada pelo homem.
Subespécies
Irwin & Barneby (1982) descreveram três subespécies em S. multijuga no Brasil, com base em diferenças nas folhas e nas estípulas. Porém, somente duas delas (multijuga e lindleyana) são citadas por Bortoluzzi et al. (2021) para o Brasil e o Cerrado, com a primeira sendo apresentada como a mais dispersa nesse bioma. Ambas estão divididas em duas variedades, não consideradas no presente trabalho.
Indivíduo florido em floresta ribeirinha. Paranoá (DF), 11-05-2021
Superfície do tronco. Paranoá (DF), 11-05-2021
Folhas. Paranoá (DF), 11-05-2021
Inflorescências. Paranoá (DF), 11-05-2021
Frutos maduros após a dispersão das sementes. Abadia dos Dourrados (MG), 07-07-2018
LITERATURA
AMORIM, I.L. et al. 2008. Morfologia de frutos, sementes, plântulas e mudas de Senna multijuga var. lindleyana (Gardner) H. S. Irwin & Barneby – Leguminosae Caesalpinioideae. Revista Brasileira de Botânica, v.31, n.3, p.507-516.
BACKES, A. & NARDINO, M. 1998. Árvores, arbustos e algumas lianas nativas no Rio Grande do Sul. São Leopoldo (RS): Ed. UNISINOS, 202 p.
BORTOLUZZI, R.L.C.; LIMA, A.G.; SOUZA, V.C.; ROSIGNOLI-OLIVEIRA, L.G. & CONCEIÇÃO, A.S. 2020. SennainFlora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB23149>. Acesso em: 08 jan. 2023
CARVALHO, P.E.R. 2004. Pau-de-cigarra – Senna multijuga. Colombro (PR): Embrapa Florestas, 11 p. (Circular Técnica, no 92).
IRWIN, H.S. & BARNEBY, R.C. 1982. The American Cassiinae; a synoptical revision of Leguminosae Tribe Cassieae Subtribe Cassiinae in the New World. Memoirs of the New York Botanical Garden, v.35, pt.1, n.17, p.1-918.
LEMOS FILHO, J. P. et al. 1997. Germinação de sementes de Senna macranthera, Senna multijuga e Stryphnodendron polyphyllum.Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.32, n.4, p.357-361..
LORENZI, H. 1992. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa (SP): Editora Plantarum, v.1, 352 p.
PIVETA, G. et al. 2010. Superação de dormência na qualidade de sementes e mudas: influência na produção de Senna multijuga (L. C. Rich.) Irwin & Barneby. Acta Amazonica, v.40, n.2, p.281-288.
SARI, L.T. & RIBEIRO-COSTA, C.S. 2005. Predação de sementes de Senna multijuga (Rich.) H.S. Irwin & Barneby (Caesalpinaceae) por bruquíneos (Coleoptera: Chrysomelidae). Neotropical Entomology, v.34, n.3, p.521-525.
SCHULTZ, V.S. 2003. Sanitary quality of seeds of pau-cigarra (Senna multijuga). Boletim de Pesquisa Florestal, n.47, p.123-128.
SOUZA, A.O. & SILVA, M.J. 2016. Senna (Leguminosae, Caesalpinioideae) na Floresta Nacional de Silvânia, Goiás, Brasil. Rodriguésia, v.67, n.3, p.773-784.
ULHÔA, M.L. & BOTELHO, S.A. 1993. Quebra de dormência em sementes de cássia-verrugosa (Senna multijuga L.C.Rich – Caesalpiniaceae). Informativo ABRATES, v.3, n.3, p.116.
WOLOWSKI, M. & FREITAS, L. 2010. Sistema reprodutivo e polinização de Senna multijuga (Fabaceae) em Mata Atlântica Montana. Rodriguésia, v.61, n.2, p.167-179.
WOLOWSKI, M. & FREITAS, L. 2011. Reproduction, pollination and seed predation of Senna multijuga (Fabaceae) in two protected areas in the Brazilian Atlantic forest. Revista de Biologia Tropical, v.59, n.4, p.1939-1948.
Senna multijuga (Rich.) H.S.Irwin & Barneby was last modified: janeiro 8th, 2023 por Benedito Alísio da Silva Pereira