Sinônimos: Hyeronima ferruginea (Tul.)Tul., H. laxiflora (Tul.) Müell.Arg.,
H. mollis Müell. Arg.
Licurana, urucurana, uricurana, pau-de-pilão, margonçalo
Árvore inerme, subcaducifólia, heliófila, dioica, de até 20 m de altura e 40 cm de DAP. Ritidoma espesso, de superfície cinzenta a amarronzada, íntegra a dividida e descamante; casca interna variando de rósea a avermelhada. Madeira moderadamente pesada; cerne castanho-claro a amarronzado. Râmulos cinzentos, sulcados, lenticelados, variando de glabros a pilosos. Folhas simples, alternas, de cor alaranjada quando senescentes; pecíolo de 3-8 cm de comprimento; lâmina discolor, cartácea a subcoriácea, ovada a elíptica, glabrescente na face superior, pilosa na inferior, glandulosa na base, de margem inteira e com 10-22 x 7-15 cm. Inflorescência paniculiforme, axilar, amarelada, pilosa a glabrescente, de 8-15 cm de comprimento. Flores pediceladas, unissexuais, monoclamídeas, com cálice cupuliforme tetra ou pentalobado; flores masculinas de 4-5 mm de comprimento, com 4-5 estames e 1 pistilódio; flores femininas de 2-3 mm de comprimento, com ovário súpero, bilocular. Frutos globosos a elipsoides, apiculados, de 4-7 mm de comprimento, com até 3 sementes, endocarpo rijo, sulcado, mesocarpo suculento, purpúreos a negros na maturação. Sementes elipsoides, de 3-4 mm de comprimento.
H. alchorneoides tem sido apontada como nativa em grande parte dos países da América Central, em todo o norte da América do Sul, na Bolívia e no Brasil. Segundo a Flora do Brasil 2020 em Construção, os registros atualmente existentes para o território brasileiro foram realizados nas unidades federativas das regiões Norte, Sul, Sudeste (exceto Espírito Santo) e Centro-Oeste (exceto Mato Grosso do Sul) e o estado da Bahia. Essa espécie ocorre em quase toda a área de abrangência do Cerrado, como um do elemento exclusivo de florestas ribeirinhas associadas a superfícies encharcadas e a terraços periodicamente inundados por enchentes.
Essa filanthácea floresce, com maior frequência, durante agosto e setembro e apresenta frutos maduros dezembro a fevereiro. As flores são frequentadas por abelhas silvestres de pequeno porte. As sementes são dispersas por pássaros frugívoros e algumas espécies de primatas. É comum as sementes serem predadas por um micro-himenóptero da superfamília Chalcidoidea, que penetram nos frutos jovens.
A madeira de H. alchorneoides é apropriada, e frequentemente usada, para confecção de vigas, caibros, ripas, portas e janelas para interiores, móveis, molduras, toneis, pilões para socar alimentos, estrados, caixotes e urnas funerárias, bem como para construção de cercas, carroças e embarcações. As folhas possuem compostos químicos com atividade analgésica e anti-infamatória (Kuroshima et al., 2008). A solução resultante da infusão da casca do tronco em água é utilizada na fitoterapia popular de algumas localidades do Cerrado, como antitussígeno. As flores são fonte de recursos alimentares para abelhas silvestres. Os frutos entram na dietas de muitas espécies de pássaros silvestres. A espécie reúne atributos que a tornam indicada para arborização urbana, recomposição de florestas em terrenos encharcados e formação de povoamentos para produção de madeira com fins comerciais.
Para formação de mudas de H. alchorneoides, utiliza-se sementes originárias de frutos bem maduros. Não é necessário retirá-las dos endocarpos, mas é preciso que estes estejam completamente livres da polpa que os envolvem. O descarte dos endocarpos que tenham tido as sementes predadas pelo micro-himenóptero anteriormente citado pode ser feito colocando-os em um recipiente com água e retirando os que flutuarem. A semeadura pode ser realizada em recipientes de ± 20 x 10 cm ou em sementeiras, para posterior repicagem das plântulas. O substrato pode ser uma mistura de terra areno-argilosa com esterco curtido, na proporção de 1:1, e o ambiente deve ter um índice de sombreamento de 30 a 50%. A germinação ocorre num prazo de 20-30 dias e o crescimento das plântulas tem sido avaliado como moderado a rápido.
H. alchorneoides ocorre em uma significativa parte d a área de abrangência do Cerrado, é exclusiva de áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e possui populações em muitas unidades de conservação de proteção integral nesse bioma.
Comentário
O gênero Hyeronima possui uma segunda espécie no Brasil, H. oblonga (Tul.) Müll.Arg., que é citada apenas para os biomas Amazônia e Mata Atlântica.