Sinônimo: Coumarouna alata (Vogel) Taub.
Baru, barueiro, baruzeiro, barujo, combaru
Árvore inerme, caducifólia, heliófila, monoica, até 15 m de altura e 45 cm de DAP. Casca moderadamente espessa; ritidoma cinzento a pardacento, dividido em fragmentos que se desprendem e deixam cicatrizes deprimidas, irregulares, na periderme de cor bege ou amarelada; casca viva amarelada, com uma camada granulosa e outra fibrosa. Madeira muito pesada, com cerne pardo-amarelo ou marrom. Folhas alternas, paripinadas, geralmente glabras, com 12-22 folíolos; raque alada, canaliculada, de 15-35 cm de compr., incluindo o pecíolo; folíolos subsésseis, opostos a subopostos, assimétricos, de margem inteira e 6-12 x 4-6 cm. Inflorescências paniculiformes, geralmente glabras, muito ramificadas, de 20-35 cm de compr. Flores diclamídeas, pentâmeras, zigomorfas, andróginas, perfumadas, de 6-8mm de compr.; corola branca a branco-rosada, com guias de néctar no estandarte. Frutos obovoides a elipsoides, monospermos, indeiscentes, com epicarpo amarelado, mesocarpo polposo, endocarpo lenhoso e 5-7 x 4-5 cm. Sementes elipsoides a obovoides, oleosas, com tegumento membranáceo, marrom e 15-20 x 10-12 mm.
Ocorre no Paraguai, Bolívia, Peru e Brasil, nas unidades federativas da região Centro-Oeste e nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Tocantins, Pará e Rondônia. Habita florestas estacionais, cerradões e cerrados densos, estando relacionada, principalmente, a solos de média a alta fertilidade. Distribui-se por quase todo o Cerrado, só não sendo encontrada na parte mais meridional desse bioma.
Apresenta folhas senescentes de junho a agosto e em setembro começa a apresentar folhas novas. Floresce entre outubro e janeiro e apresentam frutos maduros entre agosto e outubro. As flores são de antese diurna e recebem visitas de vespas, abelhas e mamangavas, que são consideradas os seus polinizadores. As semente são dispersas por morcegos, que apanham os frutos nas árvores e os levam para os seus poleiros para roerem o mesocarpo, e por ruminantes (bovinos, caprinos, ovinos, veados), que os engolem e após a ruminação liberam o endocarpo com a semente, por vezes longe da planta-mãe. Macacos e araras também são considerados dispersores das sementes de D. alata, enquanto anta, caititu, paca e alguns outros mamíferos terrestres são predadores.
A madeira é uma das preferidas no meio rural para construção de cercas, currais e outras obras externas, mas é também bastante apropriada para confecção de assoalhos, escadas, móveis, carrocerias, rodas d’água etc. As flores oferecem néctar e pólen aos seus visitantes. Os frutos têm diversas utilidades: a sua polpa entra na dieta de morcegos, macacos, araras, veados, anta e outros animais silvestres, além de ser apreciada por bovinos, caprinos e ovinos e de poder ser incluída em bolos, biscoitos e sopas para seres humanos. Além disso, o endocarpo serve como combustível e os frutos inteiros podem ser triturados e usados como ração para animais domésticos. As sementes têm mais utilidades: a) entram na dieta de roedores, caititu, anta e alguns outros mamíferos terrestres e são apreciadas por muitos cerradenses, que as consomem in natura e na forma de doce em tablete, paçoca, biscoito, bolo, licor etc. Alguns as usam para extrair um óleo que é usado na medicina tradicional (como anti-reumático, expectorante e cicatrizante), na culinária regional e nas indústrias artesanais de alimentos e de cosméticos. A espécie é indicada para arborização urbana e rural, recomposição de áreas desmatadas, implantação de sistemas de produção agroflorestais e formação de pomares de fruteiras não convencionais, com vistas ao aproveitamento das sementes.
D. alata ainda tem sido propagada exclusivamente por sementes. Para semeá-las é preciso retirá-las dos frutos ou dos endocarpos, quando a polpa já tiver sido removida por animais. Em ambos os casos pode-se utilizar um torno de bancada, com cuidado, para não danificá-las. Quando elas estão dentro de frutos inteiros, o ideal é usar equipamentos projetados para cortar os frutos deixando-as intatas [ver as ilustrações de duas versões desses equipamentos na publicação de Franz & Sano (2015), abaixo referenciada]. Normalmente, realiza-se a semeadura em sacos de polipropileno de 25 x 15 cm, cheios de terra argilo-arenosa misturada com matéria orgânica decomposta na proporção de 1:1, mas outros tipos de recipientes e de substratos também podem ser utilizados. Os recipientes devem ser mantidos em ambiente com ±50% de sombra, até as plântulas atingirem 10 cm de altura. As mudas devem ser plantadas a pleno sol, em terrenos de média a alta fertilidade ou que tenham recebido adições de calcário, esterco curtido e NPK, após análise físico-química do solo.
D. alata é uma spécie muito dispersa no Cerrado, está presente em unidades de conservação de proteção integral e é preservada pelos fazendeiros tradicionais. Por outro lado, predomina em solos de alta aptidão para atividades agropastoris, não é respeitada pelos produtores rurais que vieram de outros biomas e produz frutos que vêm sendo objeto de extrativismo não planejado.
Comentário 1: Vallilo et al. (1990) constataram através de estudos de laboratório que a polpa e sobretudo as sementes dos frutos de D. alata são ricas em carboidratos, proteínas, lipídeos e sais minerais.
Comentário 2: Vera et al. (2009) analisaram a composição química de sementes de D. alata procedentes de onze áreas do estado de Goiás e constataram que elas possuem teores altos de proteínas e lípidos, teores de ácidos graxos insaturados maiores do que de saturados e teores significativos de potássio, fósforo, enxofre e ferro. Fernandes et al. (2010) fizeram um estudo com resultados semelhantes e concluíram que essas sementes podem ser usadas como fonte complementar de proteína e consideradas uma opção para uma dieta saudável.
Comentário 3: Fontes anônimas fazem referências à presença de cumarina e de um inibidor de tripsina nas sementes de D. alata, o que tornaria desaconselhável consumi-las cruas e em grande quantidades.
Comentário 4: Sementes de D. alata não retiradas do endocarpo também germinam, mas em porcentagem bem menor e de forma mais irregular e demorada.
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Árvore em área de cerradão convertida em pastagem. Paracatu (MG), 23-07-2016
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Superfície do ritidoma. Guarani de Goiás (GO), 24-07-2014
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Inflorescência e folhas. Araporã (MG), 15-11-2016
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Frutos maduros. Guarani de Goiás (GO), 24-07-2014
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Frutos maduros intatos (em cima) e roídos por morcegos (em baixo). Guarani de Goiás (GO), 24-07-2014